A Rede Social
Publicado em Domingo,

ator: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Max Minghella, Brenda Song, Rashida Jones, Rooney Mara, Joseph Mazzello, Dakota Johnson, Douglas Urbanski, Patrick Mapel, Wallace Langham
O Gênio Mal-Ajustado
Tudo começa em um bar de Harvard, em 2003. Mark Zuckerberg, estudante de computação e gênio socialmente inapto, está em um encontro com Erica Albright. Ele fala rápido, atropela assuntos, menospreza pessoas, tenta demonstrar superioridade — e falha miseravelmente. Erica termina com ele, chamando-o de babaca. Humilhado, Mark volta ao dormitório e, movido por frustração, cria um site que compara garotas do campus: o Facemash. Em poucas horas, o site congestiona os servidores da universidade e viraliza entre os estudantes. Mark acaba punido por isso, mas chama a atenção de pessoas muito poderosas.
O Convite dos Gêmeos
A repercussão do Facemash leva os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss e o colega Divya Narendra a convidarem Mark para trabalhar em seu projeto: uma rede social exclusiva de Harvard chamada Harvard Connection. Eles querem que ele programe a estrutura do site. Mark parece interessado, mas guarda seus planos para si. Na verdade, ele já começa a desenvolver sua própria ideia — algo maior, mais fluido, mais ambicioso. Surge o embrião do TheFacebook, uma plataforma para conectar estudantes e compartilhar perfis, fotos e interesses.
O Nascimento do Facebook
Mark Zuckerberg recruta seu melhor amigo, Eduardo Saverin, para ajudar no projeto. Eduardo é carismático, racional, e confia plenamente em Mark. Eles criam o TheFacebook.com, lançado com exclusividade para Harvard, mas que rapidamente se espalha por outras universidades da Ivy League. Eduardo injeta os primeiros mil dólares, é nomeado CFO e assume o papel de cofundador. Juntos, eles assistem a explosão da plataforma — que começa a tomar vida própria. O que era uma brincadeira de dormitório agora atrai olhares de investidores e concorrentes.
A Acusação de Roubo de Ideia
Logo após o lançamento do Facebook, os irmãos Winklevoss e Divya percebem que Mark os passou para trás. Eles acreditam que ele roubou a ideia do Harvard Connection e a transformou no Facebook. Começa então uma guerra silenciosa nos bastidores. Eles o acusam formalmente à diretoria de Harvard. Mas a resposta é fria e burocrática: “Ideias não podem ser patenteadas”. Frustrados, os gêmeos começam a planejar ações legais contra Zuckerberg, enquanto ele continua expandindo a rede com a ajuda de Eduardo.
Sean Parker: O Elemento Caótico
Entra em cena Sean Parker, o criador do Napster. Carismático, visionário e autodestrutivo, Sean se encanta com o Facebook e com o potencial da empresa. Ele convence Mark de que Eduardo é um freio para o crescimento do negócio. Em uma cena simbólica, Sean sugere uma mudança simples mas definitiva: “Tira o ‘The’. Só Facebook. Fica mais limpo.” Mark fica fascinado por Sean. Começa a se distanciar de Eduardo e a abraçar o estilo agressivo e impulsivo do novo mentor. A amizade original se transforma em tensão silenciosa.
A Ruptura com Eduardo
Enquanto Mark e Sean vão para reuniões com investidores e planejam o futuro da empresa, Eduardo começa a ser excluído das decisões. Ele viaja a Nova York em busca de anunciantes, mas seus esforços são ignorados. Quando volta, encontra seu cargo esvaziado. Sean o chama de “peso morto” para a empresa. A situação explode quando Eduardo descobre que teve sua participação diluída drasticamente no contrato da empresa. Em um acesso de raiva, ele destrói o laptop de Mark em plena sede do Facebook. É o fim da amizade — e o início de um processo judicial histórico.
Dois Processos, Dois Enredos
O filme se estrutura em torno de dois processos judiciais simultâneos. De um lado, os Winklevoss processam Zuckerberg por roubo de ideia. De outro, Eduardo Saverin processa por diluição de ações e traição. As cenas vão e voltam entre as audiências e os flashbacks da criação do Facebook. Essa estrutura narrativa, escrita por Aaron Sorkin, é afiada como uma lâmina. Os diálogos são rápidos, sarcásticos e reveladores. A cada nova sessão, novas camadas da personalidade de Mark são expostas. Ele não é exatamente vilão, mas também nunca é herói.
O Triângulo de Poder
A dinâmica entre Mark, Eduardo e Sean é o coração emocional do filme. Eduardo representa a lealdade, o passado, a amizade. Sean, o caos, o futuro, a ganância. Mark se vê dividido entre os dois. No fundo, ele quer ser reconhecido, admirado, respeitado. Mas não sabe como lidar com emoções humanas. Ele vê no Facebook uma forma de conquistar respeito — mesmo que para isso tenha que abrir mão de quem esteve ao seu lado no início. A frieza com que ele trata Eduardo é tão brutal quanto simbólica: ele escolhe o império em vez do irmão.
Erica: A Ferida Que Nunca Fechou
O filme volta várias vezes à figura de Erica Albright. Embora ela apareça pouco, é a âncora emocional da história. O término com ela é o gatilho que impulsiona Mark. Ele tenta reconquistá-la, mesmo que indiretamente, através do sucesso. Em uma das cenas finais, já bilionário, ele procura o perfil de Erica no Facebook. Envia um pedido de amizade. E... atualiza a página, esperando uma resposta. Esse gesto resume todo o filme: o homem mais poderoso da internet ainda é um garoto solitário buscando validação.
A Máquina Fora de Controle
O Facebook cresce além do controle. Milhões de usuários. Bilhões em investimentos. Reuniões com empresas de capital de risco, festas, reuniões de negócios em boates. Sean Parker vira o centro das atenções — mas também um problema. Em um momento decisivo, Sean é preso em uma festa com menores e drogas. Mark começa a questionar a influência de Sean. Mas, no fundo, a máquina já não depende mais de ninguém. O Facebook agora é um monstro corporativo — e Mark, mesmo sendo seu criador, parece tão deslocado dentro dele quanto fora.
A Conclusão nos Tribunais
Os processos se resolvem fora dos tribunais. Eduardo recebe um acordo multimilionário e tem seu nome restaurado como cofundador do Facebook. Os irmãos Winklevoss também são indenizados com milhões, embora continuem ressentidos. Mark, porém, permanece como figura solitária. Ele venceu todas as batalhas financeiras — mas perdeu todas as relações pessoais. Sua maior conquista veio acompanhada de sua maior solidão. E talvez, por isso, ele continue atualizando a página de Erica. Ainda buscando aquilo que o dinheiro não pode comprar.
David Fincher no Controle
A direção de David Fincher dá ao filme uma atmosfera escura, elegante e quase claustrofóbica. Os corredores de Harvard, os dormitórios, os escritórios — tudo parece apertado, frio, calculado. A câmera se move com precisão matemática. Cada corte, cada enquadramento, cada plano tem um propósito. Não há espaço para exagero ou melodrama. O filme é cerebral, mas também humano. Fincher transforma a criação de uma rede social em um épico moderno sobre ego, poder e traição.
A Trilha Sonora Genial
Composta por Trent Reznor e Atticus Ross, a trilha sonora é eletrônica, minimalista e melancólica. Ela acompanha os movimentos mentais de Mark, acentuando o isolamento, a frieza e a obsessão. A música não serve apenas como pano de fundo — ela molda a experiência emocional do filme. A cena do remo, por exemplo, tem uma trilha baseada em Grieg, distorcida e acelerada, refletindo a tensão dos Winklevoss. Em outros momentos, a música soa como um sistema operacional rodando em segundo plano, sempre presente, sempre calculado.
O Roteiro de Aaron Sorkin
O roteiro é o coração do filme. Aaron Sorkin constrói diálogos com ritmo e inteligência raros. Os personagens falam como se estivessem em um duelo de esgrima verbal. Cada frase é uma provocação, uma defesa, um ataque. Mas, além do brilho técnico, há profundidade emocional. O roteiro transforma temas complexos — propriedade intelectual, ética nos negócios, lealdade — em conflitos palpáveis. E transforma a história de um nerd solitário em uma tragédia moderna sobre ego, insegurança e ambição.
A Performance de Jesse Eisenberg
Jesse Eisenberg entrega uma das atuações mais marcantes de sua carreira. Seu Mark Zuckerberg é frio, sarcástico, calculista — mas nunca unidimensional. Há dor por trás da frieza, orgulho por trás da arrogância. Eisenberg interpreta não apenas o gênio da computação, mas o garoto rejeitado que nunca superou a dor de não ser aceito. É uma atuação contida, precisa, desconfortável — e absolutamente hipnotizante. Você não sabe se quer abraçá-lo ou afastá-lo. E essa ambiguidade é o que torna o filme tão poderoso.
O Lado Humano da Inovação
“A Rede Social” não é apenas sobre o nascimento do Facebook. É sobre o que se perde quando se ganha o mundo. Sobre como a genialidade pode afastar as pessoas. Sobre como as maiores ideias muitas vezes nascem da dor. E sobre como, no fim das contas, todo império é construído por pessoas — com sentimentos, falhas e cicatrizes. O filme mostra que por trás de cada interface brilhante, há uma história de frustração, ambição e solidão.
Um Espelho da Geração Digital
Lançado em 2010, “A Rede Social” antecipou questões que ainda ecoam hoje: privacidade, ética online, poder das redes sociais. O filme não julga Mark Zuckerberg — mas o apresenta com crueza. Ele é o arquétipo do novo magnata digital: jovem, brilhante, ambicioso, mas emocionalmente distante. E ao fazer isso, o filme nos obriga a refletir sobre nossa própria relação com a internet. Somos usuários, criadores, vítimas? Ou um pouco de tudo? “A Rede Social” é um retrato de uma geração — e de seu anti-herói máximo.
Final Agridoce
O filme termina de forma melancólica. Mark Zuckerberg, bilionário aos 23 anos, está sozinho em uma sala. Ele atualiza a página de Erica, esperando que ela aceite sua amizade. Não há música triunfante. Não há festa. Apenas o som do clique. É o silêncio que mais grita. O homem que conectou o mundo inteiro não consegue se reconectar com uma única pessoa. E isso diz mais do que qualquer discurso. “A Rede Social” é brilhante porque é cruelmente honesta. É sobre construir algo eterno — e perder tudo que é íntimo no processo.