A Bela e a Fera (2017)
Publicado em Domingo,

ator: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Kevin Kline, Josh Gad, Ewan McGregor, Stanley Tucci, Audra McDonald, Gugu Mbatha-Raw, Ian McKellen, Emma Thompson, Nathan Mack, Hattie Morahan, Ray Fearon, Adrian Schiller
Uma Releitura Encantadora
Lançado em 2017, A Bela e a Fera é a adaptação em live-action do clássico animado da Disney de 1991. Protagonizado por Emma Watson como Bela e Dan Stevens como a Fera, o filme é uma homenagem visual e emocional à animação original, mas com atualizações que aprofundam personagens, contexto e emoções. Dirigido por Bill Condon, o longa não apenas revive a magia do conto de fadas, como também moderniza a narrativa sem perder sua essência encantadora.
Ambientado na França do século XVIII, o filme combina musical, romance e fantasia com uma produção visual deslumbrante e um elenco talentoso. Cada cena foi cuidadosamente construída para transportar o espectador para um mundo onde o amor pode quebrar maldições e a verdadeira beleza vai muito além da aparência.
Bela: A Heroína Insubmissa
Desde os primeiros minutos, Emma Watson imprime em Bela um espírito independente, curioso e intelectual. Moradora de uma pequena vila francesa, Bela se destaca por sua paixão pelos livros e pela sua recusa em seguir os papéis tradicionais esperados de uma mulher. Ela sonha com aventuras e deseja um mundo maior do que o que a aldeia oferece. Seu comportamento progressista a torna alvo de fofocas, e sua mente livre é vista como estranha por seus conterrâneos.
A interpretação de Emma Watson amplia essa personalidade rebelde e gentil, transformando Bela em um ícone de empoderamento. Ela não é apenas uma jovem sonhadora — é uma mulher que escolhe seu destino e recusa os padrões impostos pela sociedade.
Gaston: A Sombra da Vaidade
Enquanto Bela brilha por sua inteligência, Gaston representa a superficialidade e o orgulho tóxico. Interpretado por Luke Evans, Gaston é um ex-soldado narcisista que deseja se casar com Bela não por amor, mas por status. Ele não entende a recusa de Bela e vê nela apenas um troféu que ainda não conquistou. Seu ego ferido o leva a atitudes cada vez mais manipuladoras e perigosas.
O personagem serve como contraste direto à Fera. Gaston é bonito por fora, mas monstruoso por dentro. Já a Fera, amaldiçoada com uma aparência terrível, aprende a ser gentil, generosa e compassiva. O filme explora essa oposição de forma clara e poderosa.
A Maldição e o Castelo Encantado
A história central gira em torno da maldição lançada por uma feiticeira sobre um príncipe egoísta. Transformado em uma Fera, ele deve aprender a amar e ser amado antes que a última pétala de uma rosa encantada caia — ou permanecerá assim para sempre. Seu castelo se torna sombrio, e seus criados são transformados em objetos animados: o candelabro Lumière, o relógio Horloge, a bule Madame Samovar e outros.
Bela acaba prisioneira nesse castelo ao se sacrificar pelo pai, Maurice. Inicialmente temerosa e revoltada, ela gradualmente descobre um mundo mágico cheio de personagens peculiares, cada um com sua personalidade encantadora. O castelo é sombrio, mas também caloroso, uma metáfora para a Fera e seu próprio processo de redenção.
O Desenvolvimento do Amor
O ponto mais belo do filme é a construção do relacionamento entre Bela e a Fera. Diferente de muitas histórias de amor instantâneo, aqui vemos um desenvolvimento lento, baseado em conversas, trocas de conhecimento, respeito e descobertas mútuas. Bela desafia a Fera intelectualmente, e ele, aos poucos, aprende a ceder, ouvir e se preocupar com alguém além de si mesmo.
Essa evolução é marcada por momentos delicados: o jantar, o passeio na biblioteca, a dança no salão ao som de “Beauty and the Beast”. Tudo é envolto em uma estética arrebatadora, com figurinos luxuosos, cenários grandiosos e uma trilha sonora clássica reinventada com novos arranjos e letras adicionais compostas por Alan Menken, Tim Rice e Howard Ashman.
A Biblioteca e o Crescimento da Fera
Um dos momentos mais simbólicos do filme é quando a Fera mostra a Bela a vasta biblioteca do castelo. Ele percebe sua paixão pela leitura e, como gesto de gentileza e admiração, a presenteia com o lugar. Essa atitude marca um ponto de virada: não é apenas um presente, mas uma demonstração de que ele a escuta, a compreende e deseja vê-la feliz.
Ao longo da narrativa, a Fera deixa de ser o monstro hostil para se tornar um ser complexo, vulnerável e digno de amor. Dan Stevens, mesmo sob pesada maquiagem e efeitos digitais, transmite emoção e profundidade ao personagem. Seu olhar e voz refletem sofrimento, esperança e transformação.
Maurice e o Amor de Pai
O pai de Bela, Maurice, interpretado por Kevin Kline, tem uma participação mais rica nesta versão. Ele é um artista sensível, cheio de amor pela filha e marcado por perdas do passado. Sua jornada até o castelo e seu papel na vila revelam mais sobre o histórico da família de Bela, incluindo o destino de sua mãe.
Maurice não é apenas o “pai excêntrico” das versões anteriores. Aqui, ele é um personagem com nuances, que luta com coragem e ternura para proteger Bela, mesmo quando todos o chamam de louco. Sua relação com a filha é construída com cuidado, sendo um dos pilares emocionais do filme.
Os Criados Encantados
Os objetos encantados do castelo são um show à parte. Lumière (Ewan McGregor), Horloge (Ian McKellen), Madame Samovar (Emma Thompson), Zip, Cômoda e Plumette são mais do que alívio cômico. Cada um tem uma personalidade distinta, um passado e uma esperança de voltar à forma humana.
Eles também sofrem com a maldição, mas mantêm a fé de que o amor entre Bela e a Fera poderá quebrar o feitiço. Suas interações com os protagonistas são leves, bem-humoradas e emocionantes. A canção “Be Our Guest” é um espetáculo musical e visual, homenageando o número original com energia renovada.
A Queda de Gaston
Enquanto o amor entre Bela e a Fera cresce, Gaston manipula a aldeia para atacar o castelo. Ele convence todos de que a Fera é um monstro perigoso que precisa ser destruído. Seu plano culmina em uma invasão dramática, cheia de ação, onde os objetos encantados se defendem heroicamente.
Gaston enfrenta a Fera em um combate final onde sua verdadeira natureza é revelada: egoísmo, covardia e inveja. Ele prefere destruir o que não entende do que aceitar que alguém como Bela possa amar algo que foge dos padrões. Sua derrota é trágica e simbólica — uma punição para o orgulho desmedido.
O Amor Que Quebra Maldições
Após a batalha, a Fera está gravemente ferida. Bela, desesperada, declara seu amor antes que a última pétala da rosa caia. Essa confissão de sentimentos puros é o que finalmente quebra a maldição. Em uma cena emocionante e visualmente arrebatadora, o castelo renasce, os objetos voltam à forma humana, e a Fera se transforma em príncipe novamente.
O reencontro entre os dois é terno e cheio de alívio. O amor verdadeiro — construído com respeito, admiração e sacrifício — triunfa sobre as aparências, o preconceito e o medo. O final celebra não apenas o romance, mas também a superação pessoal de todos os personagens.
A Produção e Seus Detalhes
O filme é tecnicamente deslumbrante. O design do castelo, os figurinos suntuosos de Jacqueline Durran, os efeitos visuais e a cinematografia são todos feitos com extremo cuidado. Cada cena é uma pintura viva, com atenção aos detalhes e referências à versão animada e ao conto original francês.
As canções clássicas como “Belle”, “Gaston” e “Something There” são executadas com paixão, e novas faixas como “Evermore” (cantada pela Fera) adicionam camadas emocionais à trama. A direção de arte equilibra o realismo com o conto de fadas, criando um universo verossímil e encantador.
Uma Bela Atualização
Esta versão de A Bela e a Fera não tenta apagar o passado, mas sim dialoga com ele. A essência da história está intacta: a mensagem de que o amor verdadeiro vê além das aparências. No entanto, o filme atualiza as relações, amplia os papéis femininos, dá mais profundidade aos coadjuvantes e cria uma protagonista ainda mais forte.
Bela não é salva pelo príncipe. Ela escolhe amar. Ela é ativa, decidida e compõe sua própria narrativa. Emma Watson consegue equilibrar doçura e força de maneira brilhante, sendo uma das versões mais completas da personagem em todas as adaptações.
O Legado da Fábula
Beauty and the Beast já foi contada e recontada inúmeras vezes. Mas a versão de 2017 se destaca por trazer o clássico para o século XXI sem perder sua magia. O filme reafirma a importância da empatia, da leitura, da liberdade de pensamento e do amor sincero. É uma obra que agrada crianças e adultos, fãs nostálgicos e novas gerações.
É mais do que um musical romântico — é uma reflexão sobre como julgamos os outros, como enfrentamos nossos medos e como o amor pode transformar não só uma pessoa, mas todos ao seu redor. Um filme que merece ser revisto com olhos atentos ao que há de mais belo: a humanidade por trás da fantasia.