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Alice no País das Maravilhas (2010)

Publicado em Segunda-feira,

Imagem de Alice no País das Maravilhas (2010)

ator: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Crispin Glover, Matt Lucas, Michael Sheen, Stephen Fry, Alan Rickman, Timothy Spall, Barbara Windsor, Paul Whitehouse, Marton Csokas, Christopher Lee, Frances De La Tour, Jemma Powell, Leo Bill, Lindsay Duncan

O Sonho Esquecido

Alice Kingsleigh é uma jovem de 19 anos, presa entre convenções sociais e sonhos mal recordados. Ela vive na Inglaterra vitoriana e, desde criança, é atormentada por um pesadelo recorrente envolvendo coelhos falantes, gatos sorridentes e rainhas furiosas. Após a morte do pai, um homem criativo e visionário, Alice é forçada a assumir uma postura mais séria, voltada ao casamento e à tradição. Mas o chamado da loucura ainda ecoa em seu subconsciente.

O Pedido que Não Veio do Coração

Durante uma festa social organizada para anunciá-la como noiva do entediante e pomposo Hamish, Alice percebe que está sendo sufocada. Sua vida está sendo decidida sem seu consentimento. Ao ver um coelho branco de colete correndo entre os arbustos, ela o segue instintivamente — e então tudo muda. Fugindo do pedido de casamento, ela acaba caindo, literalmente, no buraco da toca do coelho, descendo por um túnel que a leva direto ao coração do impossível: o País das Maravilhas.

O Mundo de Cabeça Para Baixo

Ao chegar, Alice reencontra um mundo que não reconhece totalmente. Cogumelos gigantes, flores que falam, animais de roupas e expressões humanas. Criaturas bizarras e excêntricas a observam com expectativa, mas ela mesma não tem certeza de que aquilo é real. Absolem, a lagarta azul, diz que ela “ainda não é Alice”. Essa frase misteriosa marca o início de sua jornada de reencontro — com esse mundo e com ela mesma.

A Profecia e a Espada

Logo ela descobre que sua vinda ao País das Maravilhas foi profetizada. Um pergaminho antigo anuncia que Alice, a verdadeira Alice, retornará para enfrentar o dia Frabjoso: o dia em que ela matará o temível Jaguadarte, criatura monstruosa que guarda os domínios da Rainha Vermelha. Mas Alice, cética e racional, se recusa a acreditar. Ela acha tudo uma alucinação. E diz, com firmeza, que jamais mataria coisa alguma.

As Irmãs em Guerra

No coração do conflito está a rivalidade entre duas irmãs: a Rainha Vermelha, Iracebeth, tirânica e desproporcionalmente cabeçuda, e a elegante Rainha Branca, Mirana, que vive exilada aguardando a restauradora da ordem. Iracebeth tomou o trono à força, usando o medo para controlar as criaturas do País das Maravilhas. Ela mantém o Jaguadarte como arma de poder absoluto. A Rainha Branca, por sua vez, acredita que Alice é a única capaz de mudar o destino do reino.

Os Sobreviventes da Rebelião

Alice encontra figuras que outrora fizeram parte de seu sonho infantil: o Coelho Branco, o Rato de Chapéu, os gêmeos Tweedledee e Tweedledum, e o mais insano de todos — o Chapeleiro Maluco. Interpretado por Johnny Depp, ele é um dos poucos que ainda mantém a esperança de que Alice possa trazer a salvação. O Chapeleiro, embora quebrado emocionalmente pela guerra e repressão, vê em Alice a faísca necessária para reacender a rebelião.

Um Passado que Dói

O Chapeleiro revela que a Rainha Vermelha destruiu o dia da Festa dos Chapéus, uma celebração de liberdade e criatividade. Ele próprio foi marcado pela dor da perda e pela culpa de ter sobrevivido. Seus olhos alternam entre lucidez e loucura, e sua afeição por Alice é sincera e profunda. Mesmo sem lembrar completamente de quem ela era, ele acredita que ela ainda pode ser a Alice de antes — aquela que sabia o caminho.

A Fuga do Castelo Vermelho

Após ser capturada pela Rainha Vermelha e levada ao seu castelo bizarro, com pontes em forma de cartas e cabeças rolando por mínimas ofensas, Alice finge estar ao lado da tirana para reunir informações. Lá, ela reencontra o Chapeleiro, que foi preso por ter ajudado a resistir. Com ajuda do cão leal Bayard e da sagaz ratinha Mallymkun, Alice elabora uma fuga arriscada, escapando pelos corredores vigiados por cartas-soldado.

O Gato que Sorri no Escuro

Em meio à fuga, Alice encontra o misterioso e etéreo Gato Risonho, que aparece e desaparece conforme sua vontade. Com sua lógica inversa e frases enigmáticas, o gato ajuda Alice a atravessar pântanos e florestas perigosas. Sua confiança nela é instintiva. Ele a guia até o castelo da Rainha Branca, onde Alice pode, enfim, respirar sem medo e começar a aceitar a responsabilidade de seu papel.

A Escolha de Ser

A Rainha Branca é gentil e misteriosa. Ela não impõe a profecia a Alice, mas a convida a decidir por si mesma. A Espada Vorpal, a única arma capaz de derrotar o Jaguadarte, aguarda sua portadora. Alice hesita. Ela não se sente a mesma Alice que era quando criança. As dúvidas a corroem. Mas, ao mergulhar em seu próprio passado, ela entende: não precisa ser a Alice de antes, basta ser a Alice de agora — aquela que escolhe.

O Dia Frabjoso

Chega o dia Frabjoso. O campo de batalha está pronto: de um lado, o exército da Rainha Vermelha, com cartas-armadas, criaturas medonhas e o Jaguadarte pronto para o confronto. Do outro, os aliados da Rainha Branca, liderados por Alice, agora vestida com armadura prateada e empunhando a espada Vorpal. Todos assistem em silêncio. A guerra que parecia impossível agora repousa nas mãos de uma única garota.

A Luta Contra o Medo

A batalha final entre Alice e o Jaguadarte é tanto física quanto simbólica. A criatura é aterradora, poderosa, feita de escamas e pesadelos. Alice hesita, mas lembra das palavras de seu pai: “Pense em seis coisas impossíveis antes do café da manhã.” Com coragem e agilidade, ela enfrenta a besta, desviando dos golpes, analisando os movimentos. Por fim, em um ato de decisão pura, ela corta sua cabeça, encerrando o reinado do medo.

A Queda da Rainha Vermelha

Com a queda do Jaguadarte, a Rainha Vermelha perde seu poder. Sua arrogância é substituída por medo e desespero. A Rainha Branca assume o trono com graça e compaixão. Mas, em vez de executar sua irmã, ela impõe uma punição mais cruel: o exílio eterno. A Rainha Vermelha e seu cúmplice, Valete de Copas, são banidos para sempre, condenados a vagar sozinhos, sem reino, sem adoração, apenas com a própria vaidade.

O Retorno ao Mundo Real

Missão cumprida, Alice tem a chance de permanecer no País das Maravilhas. Mas decide voltar. Ela entendeu que não é preciso fugir do mundo real para ser quem ela é. De volta à festa onde começou tudo, Alice recusa o casamento, diz não à vida que esperavam dela, e propõe uma parceria comercial com o amigo de seu falecido pai. Ela toma o controle de sua vida com confiança e graça, como a Alice que escolheu ser.

A Metáfora do Impossível

“Alice no País das Maravilhas” de Tim Burton não é apenas uma reimaginação da clássica história de Lewis Carroll — é uma alegoria sobre amadurecer sem perder a imaginação. Alice não volta para o País das Maravilhas por acidente, mas por necessidade. Ela precisava lembrar quem era, para então decidir quem queria ser. Cada personagem é um espelho do medo, da dúvida, do amor e da coragem que enfrentamos ao crescer.

Visualmente Surreal

A estética do filme é uma das marcas registradas de Tim Burton. Cenários tortuosos, cores sombrias, personagens exageradamente cartunescos e ao mesmo tempo reais. É um país das maravilhas com traços de pesadelo, onde beleza e esquisitice convivem. Os efeitos visuais são deslumbrantes e criam uma atmosfera única, que dá vida nova à obra de Carroll, misturando o clássico com o sombrio e o épico.

Um Chapeleiro Inesquecível

Johnny Depp entrega um Chapeleiro Maluco com várias camadas. Ele é excêntrico, sim, mas também vulnerável, traumatizado, e com uma bondade tocante. Sua amizade com Alice é um elo forte, com momentos de afeto silencioso e olhares que dizem mais do que mil palavras. Ele é o coração ferido do País das Maravilhas, e Alice é sua cura — mesmo que breve.

O Poder Feminino

O filme é também uma celebração do empoderamento feminino. Alice se recusa a ser definida por sua sociedade, sua família ou suas memórias. Ela se recusa a aceitar papéis impostos e escolhe lutar por algo maior. Sua jornada não é de fuga, mas de reconexão. Ao voltar do País das Maravilhas, ela não retorna infantilizada, mas fortalecida. Ela é, enfim, autora de sua própria história.

Trilha Sonora de Outro Mundo

A música composta por Danny Elfman complementa a atmosfera mística e intensa do filme. Os temas variam entre o leve e o sombrio, acompanhando o crescimento emocional de Alice e o aumento da tensão no País das Maravilhas. Cada acorde reforça a sensação de estar em um lugar onde as regras não se aplicam — exceto a de encontrar a si mesmo.

Um Clássico Reinventado

“Alice no País das Maravilhas” (2010) é uma fábula de transformação. Não é apenas a jornada de uma jovem no mundo mágico, mas a jornada de alguém que aprende a dizer não, a enfrentar o medo e a abraçar o impossível. Tim Burton, com sua sensibilidade gótica e poesia visual, transforma uma história conhecida em um conto épico de resistência, liberdade e identidade.