Sete Dias com Marilyn
Publicado em Segunda-feira,

ator: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Emma Watson, Judi Dench, Dominic Cooper, Julia Ormond, Dougray Scott, Zoë Wanamaker, Derek Jacobi, Toby Jones, Philip Jackson, Geraldine Somerville
Um Ícone em Carne e Osso
Sete Dias com Marilyn não é apenas um filme sobre Marilyn Monroe. É um mergulho intimista na mulher por trás do mito, revelando uma figura fragilizada, complexa e sedutora, vista através dos olhos de alguém que a conheceu de perto. Baseado nas memórias de Colin Clark, um jovem assistente de produção no set do filme O Príncipe Encantado, o longa retrata uma semana de convivência com Marilyn que mudaria sua vida para sempre.
Com Michelle Williams no papel principal, o filme nos conduz por uma jornada emocional, onde o glamour de Hollywood contrasta com a solidão de seus astros. Williams entrega uma das interpretações mais impressionantes de sua carreira, recriando com precisão e sensibilidade os trejeitos, a voz e a essência da diva.
Um Jovem Fascinado Pelo Cinema
O filme começa com Colin Clark, um jovem britânico de 23 anos apaixonado por cinema e determinado a trabalhar na indústria. Mesmo sem experiência, ele consegue uma vaga como terceiro assistente de direção no set de O Príncipe Encantado, estrelado por Marilyn Monroe e Laurence Olivier. No meio do caos das filmagens e das tensões nos bastidores, Colin observa tudo com olhos curiosos, registrando os conflitos, os egos inflados e as inseguranças que rondam o mundo do espetáculo.
A figura de Marilyn, para ele, surge como um cometa. Inatingível, hipnotizante, quase irreal. Mas aos poucos, sua posição privilegiada no set lhe permite aproximar-se da estrela — primeiro como confidente, depois como algo mais íntimo.
Entre o Mito e a Mulher
Marilyn Monroe, interpretada por Michelle Williams com uma mistura de vulnerabilidade e magnetismo, é retratada aqui como uma mulher dividida. De um lado, há a figura pública: sexy, carismática, amada por multidões. Do outro, há Norma Jeane, uma mulher insegura, com traumas de infância, carente de afeto e à beira de um colapso emocional.
O filme explora essa dualidade com delicadeza. Em uma cena, vemos Marilyn deslumbrar a equipe com sua presença radiante. Na seguinte, ela desmorona emocionalmente em seu quarto, assombrada por dúvidas e ansiedades. Colin, com sua juventude e pureza, torna-se um porto seguro temporário para ela — alguém que a vê como pessoa, não como símbolo.
Michelle Williams em Estado de Graça
A atuação de Michelle Williams é um dos pontos altos do filme. Ao assumir o desafio de interpretar uma das figuras mais icônicas do século XX, ela evita a caricatura e busca capturar a essência humana de Marilyn. Seus movimentos são precisos, sua voz lembra a original, e seu olhar transmite a dor escondida por trás do sorriso.
Williams não apenas imita Marilyn — ela se transforma nela. Em cenas de dança, canto ou simples conversas, a atriz carrega um peso emocional impressionante, que dá profundidade à personagem e transforma o longa em algo mais que uma simples biografia.
O Peso da Fama
Um dos temas centrais do filme é o fardo da fama. Marilyn vive cercada por olhares, exigências, pressões. Sua insegurança é alimentada por um meio que exige perfeição, enquanto ela luta contra seus próprios fantasmas. Sua dependência de remédios, os atrasos no set, os conflitos com Laurence Olivier — tudo revela uma mulher à beira de um colapso, tentando desesperadamente corresponder às expectativas.
Colin, por sua vez, representa a juventude idealista, encantada com o cinema e apaixonada por Marilyn como mulher, não como estrela. A relação entre os dois é breve, mas intensa, marcada por momentos de ternura e cumplicidade, como um respiro de humanidade no meio do espetáculo.
Os Bastidores do Cinema
Além do drama pessoal, o filme oferece uma visão fascinante dos bastidores do cinema britânico dos anos 1950. A produção de O Príncipe Encantado é retratada como um campo de batalha de egos e estilos. Laurence Olivier, interpretado com elegância por Kenneth Branagh, representa o teatro clássico britânico, impaciente com os métodos instintivos e imprevisíveis de Marilyn.
Essa tensão entre tradição e espontaneidade reflete um choque cultural e artístico. Olivier deseja uma atriz técnica e disciplinada; Marilyn busca verdade emocional e autenticidade, mesmo que isso signifique repetir a mesma cena dez vezes. O embate entre os dois gera momentos de tensão, mas também evidencia o talento bruto de Marilyn.
A Semana Que Mudou Tudo
Conforme a história avança, Marilyn e Colin desenvolvem uma relação cada vez mais íntima. Eles passeiam, conversam sobre a vida, compartilham confidências. Colin se apaixona por ela — não pela celebridade, mas pela mulher ferida que encontra conforto em sua companhia. Marilyn, por sua vez, vê em Colin um refúgio, alguém que não a julga nem exige nada.
Mas essa bolha de afeto tem prazo de validade. O mundo real — com seus compromissos, rotinas e obrigações — logo invade esse momento mágico. A produção do filme continua, os conflitos voltam à tona, e Marilyn retoma seu lugar no palco. Colin, por mais importante que tenha sido por alguns dias, é deixado para trás.
O Fim da Ilusão
O desfecho da história é inevitável. Colin, de coração partido, precisa aceitar que seu papel na vida de Marilyn foi passageiro. Ela era, afinal, um furacão de emoções, cercada por seguranças, agentes, diretores e interesses. A ternura que viveram foi real, mas também efêmera. Como um sonho bonito que se dissolve ao amanhecer.
Mesmo assim, o impacto daquela semana é duradouro. Colin sai transformado — mais maduro, mais consciente do que significa viver no mundo do cinema, e mais ciente da distância entre o que vemos na tela e a vida real. Marilyn, com sua fragilidade e brilho, deixa uma marca que o acompanhará por toda a vida.
Um Retrato Sensível e Elegante
Sete Dias com Marilyn é um filme que evita os excessos do melodrama e aposta na sensibilidade. Sua fotografia é elegante, com tons suaves que remetem à nostalgia. A trilha sonora, discreta e comovente, reforça os sentimentos sem ser invasiva. A direção de Simon Curtis é cuidadosa, buscando sempre o equilíbrio entre o encantamento e a realidade.
É um filme sobre encontros breves que mudam vidas, sobre os bastidores da fama, e principalmente, sobre a mulher por trás da lenda. Marilyn aqui não é um mito inatingível, mas uma pessoa real — e isso é o que torna o filme tão tocante.
Emma Watson e o Elenco de Apoio
Embora o filme seja centrado em Michelle Williams, o elenco de apoio contribui significativamente para a riqueza da narrativa. Emma Watson, por exemplo, aparece em um papel secundário como Lucy, a jovem figurinista por quem Colin se interessa antes de se envolver com Marilyn. Sua atuação é contida, mas eficaz, mostrando uma faceta mais sutil de seu talento.
Kenneth Branagh também se destaca como Laurence Olivier, um homem dividido entre admiração e frustração. Ele vê em Marilyn tanto a estrela que pode elevar o filme quanto a atriz instável que pode afundá-lo. Essa dualidade dá profundidade ao seu personagem, tornando seus conflitos compreensíveis.
A Humanização de um Ícone
Ao final de Sete Dias com Marilyn, o espectador sente que conheceu a verdadeira Marilyn. Não a das capas de revista ou dos posters, mas a mulher que chorava sozinha, que buscava amor, que se perdia em seus próprios pensamentos. Essa humanização é o grande trunfo do filme.
Michelle Williams, com sua entrega total, transforma a experiência em algo emocionalmente marcante. Não é apenas uma atuação — é uma homenagem. Uma tentativa de entender e dar voz àquela que, mesmo cercada de flashes, sentia-se invisível.