Todo mundo quase morto
Publicado em Segunda-feira,

ator: Simon Pegg, Nick Frost, Kate Ashfield, Lucy Davis, Dylan Moran, Bill Nighy, Penelope Wilton, Jessica Hynes, Peter Serafinowicz, Rafe Spall, Martin Freeman
Vida Sem Rumos
Shaun é um homem de trinta e poucos anos preso numa rotina estagnada. Ele divide uma casa bagunçada com dois amigos: o responsável Pete e o desleixado Ed, seu melhor amigo de infância. Shaun trabalha em uma loja de eletrodomésticos, mas não tem ambição profissional. Ele repete os mesmos trajetos todos os dias, vai ao mesmo bar todas as noites – o pub Winchester – e negligencia constantemente sua namorada Liz. Apesar dos apelos dela por mudanças, Shaun parece alheio a tudo.
O Fim da Paciência
Liz, cansada da mesmice e da falta de compromisso, termina com Shaun após mais uma noite decepcionante. Shaun havia prometido levá-la a um restaurante para comemorar seu aniversário, mas, como sempre, acabou no Winchester com Ed. A ruptura abala Shaun mais do que ele admite. Ele tenta agir como se nada tivesse acontecido, mas a dor é visível. Ele afunda ainda mais na letargia e só pensa em como reconquistar Liz. Enquanto isso, a cidade ao seu redor começa a apresentar sinais estranhos.
Os Mortos se Levantam
Pessoas tropeçam nas ruas, cambaleantes. Sons bizarros ecoam pelas casas. Notícias no rádio e na TV falam de surtos e incidentes violentos, mas Shaun não presta atenção. Ele atravessa sua manhã com os olhos vidrados, sem perceber que o mundo está mudando drasticamente. Só depois de ir até uma loja próxima e ver cadáveres andando entre os vivos é que Shaun percebe que algo está realmente errado. Ao voltar para casa, ele e Ed finalmente se deparam com dois zumbis no quintal.
Luta Pela Sobrevivência
Usando discos de vinil, uma pá e um bastão de críquete, Shaun e Ed eliminam os dois zumbis com muito esforço e caos. É o primeiro contato com o novo mundo que se formou. Eles assistem aos noticiários e entendem: uma epidemia zumbi está se espalhando rapidamente por toda a Inglaterra. Pete, o colega de quarto, está contaminado. Shaun decide que não pode mais ficar parado: é hora de agir. Ele monta um plano para resgatar Liz, sua mãe Barbara, e levá-las para o lugar mais seguro que conhece – o Winchester.
O Grande Plano
O plano de Shaun é, ao mesmo tempo, corajoso e absurdo. Ele quer buscar sua mãe na casa dos pais, depois ir até o apartamento de Liz, e então ir todos juntos para o pub. Ed o acompanha, guiando o carro roubado de Pete. Quando chegam à casa da mãe, Shaun descobre que Philip, seu padrasto, foi mordido. Há um atrito emocional: Shaun não gosta de Philip e o acusa de ser frio e distante. Mas Barbara insiste que Philip tentou fazer o melhor. Eles o levam com eles, apesar do risco de transformação.
Reencontro Complicado
A missão de resgatar Liz também não sai como o planejado. Liz está com os amigos David e Dianne, que desconfiam das intenções de Shaun. David, especialmente, tem um ressentimento mal disfarçado por Shaun e nutre sentimentos por Liz. Apesar da tensão, todos acabam entrando na van, agora repleta de gente. Philip começa a apresentar sinais de transformação, e Shaun é forçado a confrontar seus sentimentos durante os últimos momentos do padrasto. Após a morte de Philip, eles continuam o caminho até o Winchester a pé.
Fingindo Ser Zumbi
Para se infiltrar entre os mortos, Dianne sugere que todos finjam ser zumbis. Eles imitam os gemidos e o andar cambaleante. A cena é ao mesmo tempo engraçada e tensa. O grupo consegue atravessar um grupo de zumbis, mas a segurança é temporária. Ao chegarem ao Winchester, descobrem que a porta está trancada. Eles quebram a janela lateral e entram, mas o bar está longe de ser o refúgio seguro que Shaun imaginava. Não demora muito para os mortos perceberem a presença dos vivos lá dentro.
Conflitos Internos
Dentro do bar, os problemas se multiplicam. Shaun e David entram em confronto direto. David quer atirar nos zumbis através das janelas, Shaun quer manter silêncio. Liz fica no meio do fogo cruzado. A tensão aumenta quando Ed começa a brincar com a jukebox, chamando atenção dos mortos. Shaun tenta manter a liderança, mas suas decisões são questionadas. A relação entre ele e Ed também sofre abalos, com acusações de imaturidade e irresponsabilidade mútua.
A Invasão
Os mortos finalmente arrombam a entrada do pub. A luta pela sobrevivência se torna frenética. Ed é mordido. Barbara, que estava escondendo uma mordida, morre lentamente e se transforma, forçando Shaun a matá-la com pesar. David entra em pânico, tenta matar Shaun e acaba sendo devorado pelos zumbis em uma das cenas mais brutais do filme. Dianne, desesperada, corre para salvar David e desaparece na multidão. Restam apenas Shaun, Liz e o ferido Ed.
O Último Refúgio
Shaun e Liz carregam Ed até o porão do bar. Ferido gravemente, Ed aceita seu destino com uma mistura de humor e resignação. No porão, há um revólver com duas balas. Shaun considera usá-las, mas antes que tome uma decisão, as tropas militares chegam. O exército finalmente controla a situação, e Shaun e Liz são resgatados. Ed permanece no porão, aceitando seu fim com dignidade. A epidemia é contida, mas os traumas ficam.
Um Novo Começo
Seis meses depois, a vida volta ao normal. A sociedade se adapta aos zumbis, que agora são usados como mão de obra e atrações de TV. Shaun e Liz estão juntos, levando uma vida tranquila e madura. Ele aprendeu a valorizar o que tem e parece finalmente ter crescido. Mas uma parte do passado permanece viva – ou quase: Ed, agora um zumbi domesticado, vive no galpão do jardim. Shaun joga videogame com ele em segredo, preservando o último elo com sua antiga vida.
Humor e Horror na Medida Certa
"Todo Mundo Quase Morto" é uma homenagem ao gênero zumbi com uma mistura única de humor britânico, sátira social e emoção genuína. O roteiro, coescrito por Simon Pegg e Edgar Wright, equilibra cenas absurdamente engraçadas com momentos de real tensão e tristeza. A trilha sonora e o timing cômico são impecáveis, criando uma experiência cinematográfica que transcende o rótulo de paródia. O filme é, ao mesmo tempo, uma crítica à apatia da vida moderna e um estudo sobre amadurecimento.
As Camadas de Shaun
Shaun começa o filme como um homem sem direção, alguém que foge da responsabilidade e se refugia no conforto da rotina. Mas ao ser forçado a enfrentar o apocalipse zumbi, ele descobre uma força que não sabia que tinha. Ele enfrenta perdas, toma decisões difíceis e, no processo, se torna alguém melhor. Sua jornada é simbólica: os mortos-vivos ao seu redor refletem a vida vazia que ele levava, e o caos obriga Shaun a acordar – tanto literal quanto figurativamente.
Amizade Além da Morte
A relação entre Shaun e Ed é o coração emocional do filme. Apesar das falhas de Ed, há uma lealdade incondicional entre os dois. A dor de Shaun ao ver o amigo mordido é palpável, mas também é revelador que ele prefere manter Ed em sua forma zumbi, alimentando uma memória de tempos passados. Essa escolha tem duplo sentido: é ternura e egoísmo, nostalgia e negação. A amizade deles transcende a vida, mas também aponta para a dificuldade de crescer e deixar o passado para trás.
Crítica Social com Zumbis
O uso dos zumbis como metáfora é uma das maiores sacadas do filme. Antes mesmo da epidemia, as pessoas já agiam como autômatos, presos em rotinas mecânicas. Shaun passa por zumbis sem notá-los porque, em sua alienação, todos já pareciam mortos-vivos. A crítica à sociedade de consumo, à TV vazia e ao conformismo é sutil, mas presente em cada detalhe. O humor do filme serve de veículo para uma mensagem mais profunda: viver no automático é quase tão perigoso quanto um apocalipse.
Direção Brilhante
Edgar Wright utiliza uma direção dinâmica, com cortes rápidos e repetição de cenas para mostrar a evolução da história. A primeira caminhada matinal de Shaun é recriada após o surto, com os mesmos movimentos, mas cenários completamente diferentes. Esses paralelos visuais reforçam o contraste entre a monotonia da vida antes do apocalipse e o caos repentino. Wright também brinca com o som e a montagem de maneira precisa, fazendo de cada cena uma mistura de tensão, humor e ritmo impecável.
Elenco Afinado
Simon Pegg entrega uma atuação memorável como Shaun, alternando entre o humor pastelão e momentos de verdadeira emoção. Nick Frost, como Ed, é o alívio cômico perfeito e dá profundidade a um personagem que poderia ser apenas uma caricatura. Kate Ashfield como Liz oferece o equilíbrio emocional necessário, e o elenco coadjuvante – Dylan Moran como David, Lucy Davis como Dianne e Penelope Wilton como Barbara – contribui com performances marcantes que enriquecem a trama.
Legado Duradouro
"Shaun of the Dead" não apenas revitalizou o gênero de zumbis, mas também inaugurou a chamada "Trilogia do Cornetto", seguida por "Hot Fuzz" e "The World's End". É um clássico cult que influenciou muitos filmes e séries posteriores, mostrando que é possível combinar gêneros de forma inteligente e criativa. Sua recepção crítica e de público foi extremamente positiva, e até hoje o filme é reverenciado por fãs de cinema, comédia e horror.
Entre o Riso e o Medo
Poucos filmes conseguem fazer o espectador rir e, ao mesmo tempo, sentir o peso da perda como "Todo Mundo Quase Morto". É um filme sobre zumbis, sim, mas também sobre amizade, amadurecimento, família e escolhas. Ele nos faz refletir sobre como vivemos nossas vidas e o que realmente importa quando o mundo desaba. Em um mar de produções apocalípticas, Shaun e seu bastão de críquete deixaram uma marca inesquecível.