Zodíaco
Publicado em Sabado,

ator: Mark Ruffalo, Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr., Anthony Edwards, Brian Cox, Elias Koteas, Chloe Sevigny, John Carroll Lynch, Donal Logue, Dermot Mulroney
Uma Carta para o Terror
Tudo começa em 1969, quando um casal é brutalmente atacado em Vallejo, Califórnia. Um sobrevivente, uma morte, e nenhum motivo aparente — até que uma carta anônima chega a três jornais de San Francisco. O remetente se autodenomina "Zodíaco", um nome que marcaria uma era de medo, mistério e paranoia. A carta traz detalhes do crime que só o assassino poderia saber. Com ela, um criptograma enigmático e um aviso: se não for publicado, ele matará novamente. Assim nasce um dos casos mais intrigantes e aterrorizantes da história americana.
Paul Avery e a Caçada na Imprensa
Paul Avery, um repórter veterano do San Francisco Chronicle, torna-se o primeiro jornalista a levar o Zodíaco a sério. Sarcástico e audacioso, Avery começa a investigar e publicar cada movimento do assassino. Mas o jogo é mais perigoso do que parece. O Zodíaco responde, interage, desafia. A linha entre jornalismo e guerra psicológica começa a se apagar. A cada nova carta, o clima na redação muda. Avery sente o peso da fama mórbida que lhe é imposta: ele não está apenas cobrindo o caso, está se tornando parte dele.
Robert Graysmith: O Cartunista Obcecado
No meio do caos, um cartunista ingênuo, Robert Graysmith, observa tudo à distância. Fascinado por enigmas e códigos, ele começa a estudar os criptogramas enviados pelo Zodíaco. Graysmith é subestimado por todos — afinal, ele desenha, não investiga. Mas seu olhar meticuloso, quase infantil, o leva a conexões que os especialistas ignoram. Aos poucos, sua obsessão cresce. Graysmith não quer fama, nem justiça. Ele quer entender. E esse desejo o leva a um caminho que vai consumir sua vida.
A Polícia Desorientada
Enquanto a imprensa batalha com o medo, a polícia luta com a frustração. Três departamentos — Vallejo, San Francisco e Napa — investigam os crimes, mas falham em se comunicar. As evidências se perdem, as pistas esfriam, e a frustração se acumula. O detetive Dave Toschi, de San Francisco, vira o rosto público da investigação. Carismático e metódico, Toschi inspira confiança, mas está sempre um passo atrás. As descrições do suspeito mudam. As cartas se tornam mais cruéis. A pressão aumenta. E o Zodíaco continua livre.
Mais Assassinatos, Mais Cartas
O terror se espalha. Novos assassinatos ocorrem, com padrões que lembram o primeiro — casais atacados, mensagens criptografadas, um símbolo de mira circular como assinatura. Em uma carta, o Zodíaco diz que fará vítimas em massa. Ele ameaça ônibus escolares, desenha bombas, e até telefona para a polícia após um ataque. A Califórnia entra em estado de alerta. E o pior: ele parece gostar disso. Cada assassinato vira espetáculo. A mídia alimenta a fama do monstro, e o monstro responde com mais audácia.
O Mistério do Criptograma
O primeiro dos criptogramas é decifrado por um casal de professores — e não traz nenhuma identidade, só delírios sobre matar pessoas por prazer. Os outros continuam sem solução. Robert Graysmith mergulha neles como quem tenta resolver um quebra-cabeça do destino. Sem formação policial ou jornalística, ele investiga à margem. Vai a bibliotecas, entrevista sobreviventes, compara registros públicos. Seu olhar de amador se transforma em lente de detetive. Graysmith está decidido a encontrar o Zodíaco — mesmo que ninguém mais acredite que isso seja possível.
A Decadência de Paul Avery
Enquanto Graysmith cresce, Avery afunda. O jornalista rebelde torna-se uma sombra de si mesmo. Assediado pelo medo, ele se afasta do caso e afunda no álcool. A glória de ser o primeiro a cobrir o Zodíaco cobra seu preço. A relação entre ele e Graysmith, antes baseada em provocações amigáveis, se desfaz. Avery desdenha da obsessão do cartunista, mas no fundo, inveja sua perseverança. O caso que trouxe sua fama, agora o arrasta para a decadência.
Arthur Leigh Allen: O Principal Suspeito
Após anos de investigação, um nome ganha destaque: Arthur Leigh Allen. Um homem estranho, com histórico de abuso, ligação com as áreas dos crimes e comportamento suspeito. Tudo aponta para ele — exceto as provas. Ele usa um relógio com o símbolo do Zodíaco. Tinha acesso a máquinas de escrever e códigos militares. Foi denunciado por colegas. Mas nenhuma evidência física o liga diretamente aos assassinatos. A polícia o interroga. Ele se esquiva, ri, provoca. A dúvida cresce: e se for ele?
Os Limites da Lei
Dave Toschi quer prender Allen, mas o sistema exige provas. As pegadas não batem. As digitais não coincidem. A caligrafia é inconclusiva. O tempo passa. O caso esfria. Toschi se frustra. O público se esquece. Os superiores desistem. Apenas Graysmith continua. Ele monta uma linha do tempo, cruza datas, compara registros escolares, boletins, dados que ninguém mais procurou. Cada nova descoberta reforça sua certeza: o Zodíaco é Allen. Mas será isso verdade — ou apenas o viés de uma mente já tomada pela obsessão?
O Preço da Obsessão
A busca de Graysmith o consome. Sua esposa o abandona. Seus filhos o evitam. Ele perde o emprego. Mas continua. De caderno em punho, ele percorre cidades, vasculha arquivos, enfrenta ameaças. Sua fixação pelo caso o transforma em prisioneiro. Mas também o torna imparável. Ao final, ele escreve um livro com tudo o que descobriu. Seu objetivo não é capturar o Zodíaco com algemas, mas com palavras. Sua missão é documentar, alertar, impedir que a história morra com o tempo.
Uma Última Confrontação
Em um dos momentos mais tensos do filme, Graysmith visita uma loja onde acredita que o Zodíaco trabalhou. O olhar do balconista, sua postura, a tensão silenciosa — tudo indica que ele pode ser o assassino. Não há gritos, nem armas, apenas um silêncio ameaçador. Graysmith sai dali abalado, mas certo de que está perto da verdade. Ele não tem como provar. Mas vê nos olhos do outro aquilo que buscou durante anos: o olhar do assassino.
O Reconhecimento Tardio
O filme encerra com um texto informando que, anos depois, uma das vítimas sobreviventes reconheceu Arthur Leigh Allen como o homem que o atacou. Allen, no entanto, já estava morto. Nunca foi formalmente acusado. A justiça não foi feita nos tribunais, mas no coração dos que buscaram a verdade. A obsessão de Graysmith, que tantos consideraram loucura, finalmente se justifica. Mas o vazio permanece. O Zodíaco nunca foi capturado. Seu enigma nunca foi completamente decifrado.
David Fincher e a Direção Precisa
David Fincher transforma Zodíaco em um estudo sobre obsessão, ambiguidade e a frustração da verdade incompleta. Sem recorrer a cenas explícitas, ele constrói o terror com silêncio, diálogos tensos e detalhes minuciosos. Cada plano é milimetricamente pensado. Cada personagem respira uma angústia diferente. Fincher não quer resolver o crime — quer mostrar como o crime corrói os que tentam resolvê-lo.
Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo e Robert Downey Jr.
Jake Gyllenhaal vive Graysmith com olhos arregalados e inquietos. Sua transformação de cartunista inofensivo para investigador obsessivo é gradual e dolorosa. Mark Ruffalo, como Toschi, representa o lado frustrado da lei — experiente, metódico, impotente. Robert Downey Jr., como Avery, dá ao jornalista um charme decadente, um brilho que se apaga lentamente. Juntos, os três mostram diferentes formas de lidar com o mistério: paixão, método, autodestruição.
Mais que um Filme Policial
Zodíaco não é apenas um filme sobre um assassino em série. É sobre o impacto do mal não apenas nas vítimas, mas em todos os que tentam compreendê-lo. É sobre a impossibilidade de fechar certos capítulos da história. É sobre como a verdade, por vezes, se esconde entre linhas mal escritas, pistas falsas e silêncios ensurdecedores. E sobre como algumas perguntas nunca recebem resposta.
Uma Atmosfera que Perdura
A trilha sonora sutil, a fotografia acinzentada, o ritmo lento mas constante — tudo contribui para uma sensação de desconforto contínuo. O filme não termina com catarse, mas com inquietação. Não há final feliz, apenas a constatação de que a busca pela verdade muitas vezes não leva ao fim, mas a um novo começo. E o Zodíaco, com sua assinatura simples, continua pairando como um fantasma — não por seus crimes, mas por sua ausência de identidade.
O Legado do Caso
O caso Zodíaco se tornou um dos maiores mistérios criminais dos Estados Unidos. Inspirou livros, teorias, podcasts e filmes. O nome do assassino virou sinônimo de algo que não se pode compreender. Graysmith, apesar de tudo, conseguiu eternizar a história. Seu livro, Zodiac, virou referência para qualquer pessoa interessada em crimes reais. E o filme de Fincher tornou essa história ainda mais impactante, ao mostrar que o verdadeiro horror está na incerteza.